E ela no terreiro alimentava as aves,
Enquanto trabalhava cantava uma cantilena
Que mais parecia uma ladainha
Voa minha ave voa
Voa no céu sem parar
Voa minha ave voa
Voa em busca do seu lar.
E repetia os versos estudados
Metricamente sem errar
Voa minha ave voa
Voa que eu também quero voar
Voa minha ave voa
Vou lhe encontrar em algum lugar.
Mais parecia dor a cantiga
E todos os escravos já sabiam
Era só começar o canto
Dentro da casa do coronel
A criança iniciava seu pranto.
Estranha coincidência!
Fato contado pelo Pai Joaquim
Que vivia nas bandas dos araxás
Terras de belos índios
Que se bandearam para os Goiás.
A pobre escrava já se via no tronco
E por lá permanecia a pão e água
Nem os rogos da sinhá
Amoleciam duro coração.
E no tronco ela continuava
Como se em prece
E olhando para os céus
Parecendo ver alguém...
Voa minha ave voa
Sou triste olhando pro céu
Voa minha ave voa
Não sei o que aconteceu.
E ela via flores em belos jardins
E via o sol e os anjos em festa
Até que um dia,
Ali mesmo no tronco,
Mãe Maria morria...
Marta Peres
0 comentários:
Postar um comentário