03/10/2009

Voz do silêncio


Voz do silêncio

Na boca inda o sabor dos derradeiros dias,
quintal mostrava sinais do final da temporada,
folhas e cascas jogadas ao chão, esparramadas
nem gemiam para morrer, lembranças apenas.

E rastelos iam juntando o que viam pela frente,
misturando à terra eram levadas a locais,
resguardadas para adubo. O céu claro cobria
rosto de suor, à tarde certamente viria chuva.

Dezembro dentro das lembranças abria portas
fechadas, olhos rodavam casa e quintal,
folhas vermelhas caídas na cozinha certamente
carregada pelo vento que soprava todos os dias.

Meu mundo ali dentro das minhas mãos, mesmo céu,
mesmo ar, casa mais velha, menos cuidada, dentro
do coração recordações passavam em cenas
cinematográficas, tenho de estar só na multidão.

Velha jabuticabeira sentia minha presença,
balançando os galhos deixava palavras
em meus ouvidos, sabia de minha partida,
nada dizia, deixava a voz do silêncio falar.

Marta Peres
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